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Consequências políticas

A expressão está a tornar-se lugar comum e, certamente, irá intensificar-se ainda mais, face à previsível e crescente instabilidade social, patente em manifestações e protestos.

Agora é a redução de apoios estatais ao ensino privado e cooperativo que gera contestação em muitos estabelecimentos de ensino do continente, e onde se equipara as subvenções governamentais às escolas públicas.

Manter um braço de ferro com aquelas instituições, algumas das quais têm, efetivamente, desempenhado uma função supletiva no ensino, é imprudente. Há que tirar consequências políticas, ajustando os interesses do estado às necessidades daquelas escolas, salvaguardando sempre a educação dos alunos.

E não vem mal nenhum ao mundo nem aos decisores políticos recuarem e atenderem ao interesse das populações e ao bem-comum.

O contrário é próprio de regimes autocráticos que, por se tornarem insensíveis aos direitos, liberdades, garantias e reivindicações populares, se isolam na arrogância dos seus casulos e na prosápia da sua oratória que já não convence nem mobiliza os cidadãos.

Não se julgue, porém, que esta prática atinge só governantes, autarcas, gestores públicos e agentes da administração.

Os dirigentes partidários e os deputados da oposição movem-se também por convicções e paradigmas que pretendem impôr com arrogância identica à dos seus adversários. Afirmam-se donos da razão suprema e nunca dão o braço a torcer nem admitem os seus erros perante a verdade dos adversários.

Também eles deveriam tirar consequências políticas das suas atitudes e afirmações, pois os deputados, como legisladores, são também decisores.
Se tal acontecesse, os eleitores veriam, com outros olhos, os seus representantes eleitos, e a sua participação cívica em actos eleitorais seria maior.

A eleição do Presidente da República é caso para uma reflexão que deve envolver cidadãos e dirigentes partidários, visando retirar-se consequências políticas do aumento da abstenção no país e, designadamente, nos Açores.
Quando 68% dos eleitores açorianos  - apenas 82.560 dos 191.828 inscritos - decidem não ir às urnas, o Presidente eleito deve tirar consequências políticas porque foi eleito com menos 9 mil votos que em 2006. Significa isto que, no primeiro mandato, grande parte dos eleitores açorianos entendeu que Cavaco Silva não esteve próximo destas ilhas e do seu povo, que não atuou em conformidade com os seus « direitos liberdades e garantias », suas justas aspirações e anseios, e que não envolveu a periferia insular atlântica no todo nacional.

Muitos, sobretudo os mais velhos, recordam as rápidas e inconsequentes visitas ministeriais do tempo da outra senhora e a vinda de chefes de estado, ao estilo régio, passeando numerosas comitivas por hotéis e banquetes, só para afirmar: « Aqui também é Portugal ».

Essa mentalidade, conforme o imperialismo colonial, já não é aceite pelos cidadãos destas ilhas que conquistaram um regime autonómico com Assembleia e Governo próprios, capazes de responder às suas mais prementes necesidades e anseios, e de preparar o seu futuro.

Os açorianos já interiorizaram e sentem no seu quotidiano as vantagens do atual sistema de auto-governo que, desde o início, se preocupou por estar próximo das populações.

É a proximidade dos governantes, ou a falta dela que leva os eleitores a participarem nos atos eleitorais e nas decisões políticas.

Os que perceberem esta regra da democracia, terão a aceitação do povo soberano nas urnas. Os que se mantiverem distantes nos palácios e gabinetes, recusando o encontro dialogante com o povo, dele receberão desprezo e recusa.

Os cidadãos também sabem tirar consequências políticas e nisso, por vezes, são implacáveis.

 

 

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